O PROFESSOR E A ESCOLA PARA A SOCIEDADE
Hoje,
nas minhas reflexões, nas leituras de artigos filosóficos e leituras do dia a
dia do professor, da escola e de suas relações com a sociedade política,
deparei com algumas conclusões, que passo a seguir:
Os
professores sempre amenizaram a vida do brasileiro quando contada na escola. Contaram para o aluno
a história de um país de mentira, “sem terremoto, com um solo eternamente
fértil, sem guerras e revoluções, sem grandes traumas, sem racismo, sem
violência urbana, sem chacina rural e urbana; enfim, o país melhor de se viver”. Os professores contaram essa fábula para
todos os alunos. Estes, uma vez vendo que a vida não era assim e que esse
Brasil nunca existiu, tornando-se adultos passaram a desconsiderar a escola.
Ela não podia ser levada a sério. Os professores não podiam ser levados a sério
se acreditavam naquilo tudo que contavam. Como fazer pressão nos governantes para ter uma
política educacional boa se a escola não é um lugar de coisa séria, verdadeira? Os professores, muitas
vezes, apresentam-se como babás meio toscas, que compram cartolina para que
cada criança recorte um coração e entregue para o pai que, vítima do racismo,
da pobreza, do álcool e das igrejas, espancam diariamente a mãe! O aluno
obedece, mas mais ou menos pensa, em silêncio: “esse professor não é bom da
cabeça, o mundo em que ele vive não existe, ele parece uma criança!”. Como
escrever as bobagens doces dos professores na cartolina para entregar para pais
pobres, metidos em enrascadas diárias, ou pais de classe média que nem os vêem,
pois estão esgoelando em seus escritórios ou nas indústrias para tentar não
deixar faltar em casa a última Barbie ou o brinquedo eletrônico de última
geração para seus rebentos?
Desta forma, a sociedade brasileira viu na escola esse cultivo da
fantasia. Viu no professor não um profissional, mas um “tio” ou uma “tia”. Não
um trabalhador, mas alguém que “dá aulas”. Não uma pessoa capaz, mas alguém que
foi ensinar exatamente porque não conseguiu realizar ele próprio o que o ensino
capacitaria ou até mesmo porque não há outra coisa melhor prá se fazer. Aliás,
hoje qualquer um “dá aulas”. Como aumentar os salários “dessa gente”, que no fundo fica o dia todo
“brincando com criança” ou “se divertindo com a fantasia dos jovens”? Há
preconceito da sociedade nisso. Mas há também conceito. Pois, de fato, estamos
cada vez mais fazendo da atividade de ensino alguma coisa, antes, parecida com
o paraíso da brincadeira sem graça e hoje, o cultivo do lúdico necessário a
todo animal inteligente.
Moldamos
assim a silhueta do professor para a nossa sociedade e, desse modo, criamos as
condições para que essa mesma sociedade deixasse de lado o professor e a
escola. Por isso mesmo, quase todos nós louvamos a chamada “escola da vida” em
detrimento do ensino formal escolar. A maioria dá pouco ou nenhum
valor para seus professores e insiste dizer que é um autodidata. Aliás, em
nenhum lugar do mundo há tanta valorização do autodidatismo como no Brasil. O brasileiro tem
vergonha de dizer que não sabia e que aprendeu de fato com o outro, com o
professor. Ele prefere até dizer que aprendeu “na rua”, ouvindo “o povo”. Pois ele vê seriedade nisso, mas não na
escola. Ela é cor de rosa demais para ser levada a sério. Mesmo agora, quando
impregnada pela violência urbana, ela não muda, continua moralista e busca de
toda maneira se ausentar da vida social. Censura o palavrão, mas não censura
mais a palavra errada saída do português ruim do aluno! ... Hoje vi na
televisão que o governo pretende aumentar o número de aulas de português na
grade do ensino fundamental...
A
escola pode ser pintada de vermelho de sangue, mas vai continuar pedindo a
cartolina para fazer o coração para o Dia das Mães, e vai continuar dizendo que
Tiradentes ou era um dentista maluco ou era um “idealista” e que, enfim, “isso
faz tanto tempo” que não “tem tanta importância”. A maneira de comemoração das
datas cívicas diz tudo da mentalidade do professor, da escola, e o modo como
ambos se caracterizaram diante da sociedade.
A pior coisa que poderia acontecer a um profissional aconteceu com o
professor: ele não foi tomado como um profissional, mas como um amador. Aliás,
literalmente, pois sua profissão não é ensinar, é amar, é servir... Na escola pode faltar de tudo. Só não pode faltar
amor. E como toda professora cultiva isso, aplaude o governante que repete o
refrão do amor. E, traduzindo tudo isso,
é como se ouvíssemos o governador Geraldo Alkimin dizer que “ Quem quer dar aulas faz isso por gosto e
não pelo salário, Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino
privado.” e pensar que ele está com a razão... ou então, quem sabe, deveríamos
ser políticos? Aliás, até imagino nós, professores políticos servindo ao povo
por amor e todo mês termos a nossa conta bancária recheada... Seu político
ordinário!
Assim,
não se pode deixar de gastar bilhões com uma copa do mundo para usar esse dinheiro
em um mundo de gente pueril, a escola, um lugar de professores, ou seja, de
crianças que brincam com crianças, que tomam conta de crianças. Seria gastar
mal o dinheiro público se assim OS GOVERNANTES fizessem... Essa mentalidade é
estampada nas mensagens do “Dia do Professor”, ao menos para quem sabe ler nas
entrelinhas ou, às vezes, escancaradamente, nas linhas mesmo.
Tem textos que a gente nem deve parabenizar, mas agradecer. Texto forte, carregado de dor, de sentimento bruto...e terno. Tô compartilhando com todo mundo.
ResponderExcluirExcelente reflexão!
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