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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013


O PROFESSOR E A ESCOLA PARA A SOCIEDADE


Hoje, nas minhas reflexões, nas leituras de artigos filosóficos e leituras do dia a dia do professor, da escola e de suas relações com a sociedade política, deparei com algumas conclusões, que passo a seguir:

Os professores sempre amenizaram a vida do brasileiro quando contada na escola. Contaram para o aluno a história de um país de mentira, “sem terremoto, com um solo eternamente fértil, sem guerras e revoluções, sem grandes traumas, sem racismo, sem violência urbana, sem chacina rural e urbana; enfim, o país melhor de se viver”. Os professores contaram essa fábula para todos os alunos. Estes, uma vez vendo que a vida não era assim e que esse Brasil nunca existiu, tornando-se adultos passaram a desconsiderar a escola. Ela não podia ser levada a sério. Os professores não podiam ser levados a sério se acreditavam naquilo tudo que contavam. Como fazer pressão nos governantes para ter uma política educacional boa se a escola não é um lugar de coisa séria, verdadeira? Os professores, muitas vezes, apresentam-se como babás meio toscas, que compram cartolina para que cada criança recorte um coração e entregue para o pai que, vítima do racismo, da pobreza, do álcool e das igrejas, espancam diariamente a mãe! O aluno obedece, mas mais ou menos pensa, em silêncio: “esse professor não é bom da cabeça, o mundo em que ele vive não existe, ele parece uma criança!”. Como escrever as bobagens doces dos professores na cartolina para entregar para pais pobres, metidos em enrascadas diárias, ou pais de classe média que nem os vêem, pois estão esgoelando em seus escritórios ou nas indústrias para tentar não deixar faltar em casa a última Barbie ou o brinquedo eletrônico de última geração para seus rebentos?

Desta forma, a sociedade brasileira viu na escola esse cultivo da fantasia. Viu no professor não um profissional, mas um “tio” ou uma “tia”. Não um trabalhador, mas alguém que “dá aulas”. Não uma pessoa capaz, mas alguém que foi ensinar exatamente porque não conseguiu realizar ele próprio o que o ensino capacitaria ou até mesmo porque não há outra coisa melhor prá se fazer. Aliás, hoje qualquer um “dá aulas”. Como aumentar os salários “dessa gente”, que no fundo fica o dia todo “brincando com criança” ou “se divertindo com a fantasia dos jovens”? Há preconceito da sociedade nisso. Mas há também conceito. Pois, de fato, estamos cada vez mais fazendo da atividade de ensino alguma coisa, antes, parecida com o paraíso da brincadeira sem graça e hoje, o cultivo do lúdico necessário a todo animal inteligente.

Moldamos assim a silhueta do professor para a nossa sociedade e, desse modo, criamos as condições para que essa mesma sociedade deixasse de lado o professor e a escola. Por isso mesmo, quase todos nós louvamos a chamada “escola da vida” em detrimento do ensino formal escolar. A maioria dá pouco ou nenhum valor para seus professores e insiste dizer que é um autodidata. Aliás, em nenhum lugar do mundo há tanta valorização do autodidatismo como no Brasil. O brasileiro tem vergonha de dizer que não sabia e que aprendeu de fato com o outro, com o professor. Ele prefere até dizer que aprendeu “na rua”, ouvindo “o povo”. Pois ele vê seriedade nisso, mas não na escola. Ela é cor de rosa demais para ser levada a sério. Mesmo agora, quando impregnada pela violência urbana, ela não muda, continua moralista e busca de toda maneira se ausentar da vida social. Censura o palavrão, mas não censura mais a palavra errada saída do português ruim do aluno! ... Hoje vi na televisão que o governo pretende aumentar o número de aulas de português na grade do ensino fundamental...

A escola pode ser pintada de vermelho de sangue, mas vai continuar pedindo a cartolina para fazer o coração para o Dia das Mães, e vai continuar dizendo que Tiradentes ou era um dentista maluco ou era um “idealista” e que, enfim, “isso faz tanto tempo” que não “tem tanta importância”. A maneira de comemoração das datas cívicas diz tudo da mentalidade do professor, da escola, e o modo como ambos se caracterizaram diante da sociedade.

A pior coisa que poderia acontecer a um profissional aconteceu com o professor: ele não foi tomado como um profissional, mas como um amador. Aliás, literalmente, pois sua profissão não é ensinar, é amar, é servir... Na escola pode faltar de tudo. Só não pode faltar amor. E como toda professora cultiva isso, aplaude o governante que repete o refrão do amor.  E, traduzindo tudo isso, é como se ouvíssemos o governador Geraldo Alkimin dizer que “ Quem quer dar aulas faz isso por gosto e não pelo salário, Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado.” e pensar que ele está com a razão... ou então, quem sabe, deveríamos ser políticos? Aliás, até imagino nós, professores políticos servindo ao povo por amor e todo mês termos a nossa conta bancária recheada... Seu político ordinário!

Assim, não se pode deixar de gastar bilhões com uma copa do mundo para usar esse dinheiro em um mundo de gente pueril, a escola, um lugar de professores, ou seja, de crianças que brincam com crianças, que tomam conta de crianças. Seria gastar mal o dinheiro público se assim OS GOVERNANTES fizessem... Essa mentalidade é estampada nas mensagens do “Dia do Professor”, ao menos para quem sabe ler nas entrelinhas ou, às vezes, escancaradamente, nas linhas mesmo.


"É MUITO DIFÍCIL EDUCAR POR AMOR, QUANDO A SOCIEDADE NÃO VALORIZA O EDUCADOR."

2 comentários:

  1. Tem textos que a gente nem deve parabenizar, mas agradecer. Texto forte, carregado de dor, de sentimento bruto...e terno. Tô compartilhando com todo mundo.

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