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terça-feira, 20 de setembro de 2011

A TERCEIRA LIÇÃO



Sinto-me à vontade, não tanto quanto Raul Pompéia em sua obra “O Ateneu”, para falar um pouco da vida passada no Colégio Estadual, apesar de não haver tanta semelhança entre os dois. Mas, a saudade muitas vezes traz à tona lições de vida nunca esquecidas e a lembrança do trabalho sério e incansável daqueles “mestres” que se não nos ensinaram para aquele tempo, com certeza serviram de bússola para nós nos dias de hoje: Seu Chaves, Seu Nilson, Seu Hérbio, Geraldo Damasceno, Lucilo, Gabriel, Taninha, Bequinha, Izaías, Celeste, Dona Nini, Dadinho, Dona Lucília, Seu Geraldo Arantes, Júlia Leocádia, Dona Neguinha, “Chico Preto” e outros mais, que a memória não me permite lembrar.

Com certeza, o clímax na escola nunca começa no início da aula, sim na hora do recreio e no Estadual não poderia ser diferente. Seu Durães, o disciplinário, de pé, com os braços cruzados, permanecia inerte. Apenas os olhos vigilantes que quase saindo de órbita, ora rodopiavam, ora ficavam de soslaio. E a meninada descia as escadarias do Estadual às correrias para o “rango”. Ao chegar ao pátio começavam as brincadeiras de roda, os piques e porque não, as brigas (como sempre), os namoricos e a famigerada fila; o que até hoje não acabou nas escolas. Aliás, vamos pegar fila até o fim de nossas vidas, porque a modernidade ainda não inventou outra forma de organização... e continua sendo o primeiro da fila aquele que chega primeiro. 

O Gérson, filho de Seu Caldeira, prestava-se a adivinhar qual ônibus acabara de subir o morro da praça do cinema, que ao ouvir o barulho do motor dizia: “Este é o número 5 da Vila Tanque”. E era “batata”! Acertara mais uma vez, e no meio destas contava aquelas piadinhas picantes e/ ou pesadas que só ele mesmo sabia contar com tanta competência.

Bate o sinal. Termina o recreio. Voltamos à sala de aula. O professor faltou (hoje é mais comum...) e a turma quebrou o pau... Quase jogou a sala no chão... De repente, eis que chega Seu Geraldo Arantes, professor de Educação Física, que quase nos matava de tantos exercícios físicos; bola mesmo, “necas”... Os tempos mudam... E por causa da bagunça, nós, da sala 23, tivemos que copiar dez vezes o Hino Nacional Brasileiro. Bendita cópia! Só assim aprendi a cantar o nosso hino de cor.

Em seguida, veio a aula de ciências com “Chico Preto”, com argüição e tudo o mais, inclusive, acredito eu, que tenha sido ele o inventor de “empréstimo de pontos”, para que não ficássemos com nota vermelha. Por incrível que pareça, nesse dia, gozador como ele só, pegou o Chiquinho da Telemig, dançando tango com uma vassoura que acabara de pegar atrás da porta da sala, e não é que o danado do Chico Preto colocou Chiquinho para dançar (e cantar) com a vassoura na frente de todos...!?

Bate o sinal novamente. Este até hoje é o sinal mais esperado pelos alunos. Acabou a aula e a coisa sobrou para mim. O “Boneca”, aquele cabeludo e magricela da “Cidade Alta”,  resolvera  juntar os outros colegas para tirar o meu sapato, uma vez que eu o havia importunado com alguma brincadeira que o mesmo não teria gostado . E lá se foi o meu Vulcabrás pelos corredores da escola, de pé em pé, no meio daquela turba alvoroçada para chegar em casa, até chegar aos primeiros degraus da escada; e eu gritava: “na escada, não! Seu Durães vai pegar...” E eles, nada... Continuaram chutando o pé esquerdo do meu sapato e eu correndo como um saci para não sujar a minha meia branca. Que catástrofe! O sapato foi parar aos pés do professor Vicente Soares, diretor da escola, e dali  direto para sua mesa, à minha espera, quando então recebi mais uma lição: “Se você quer ser respeitado, dê respeito.”              
                                                                                                                                                
Então os anos se passaram. A turma terminou seus estudos e cada um seguiu o seu caminho. O Colégio Estadual continuava de pé, abrindo suas portas para receber outros alunos, até que um dia, o sinal emudeceu, os corredores e as escadarias ficaram desertas, desaparecendo assim o Estadual e junto com ele o Cine Monlevade, a Rádio Cultura, o Bar Para Todos, o Ideal Clube, o “Naite Clube” (União Operário), a Praça do Mercado, o Grêmio, enfim, a vida do centro de Monlevade esvaiu-se. Tudo volta para o seu legítimo dono: A Belgo Mineira. E ninguém fez nada para impedir. Nem eu...

Esta foi a terceira lição...
                                                                                                                           Afonso Alves Ferreira

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