DE MOCINHO A BANDIDO
Talvez soe mal esse título, mas foi o que veio à
minha cabeça, ao confrontar opiniões da mídia
sobre os servidores públicos e seu movimento grevista com as mazelas
politiqueiras do administrador atual da prefeitura. Entre tantas verdades
relativas sobre deveres e direitos do servidor, com as quais convivo há 37
anos, na prefeitura, não seria de admirar quaisquer críticas e reclamações que
venham à tona ... A questão maior é elas aparecerem, como que se quisessem
justificar o 0% de reajuste e, principalmente, pelo drama que vivemos relacionado à valorização do servidor público; apesar de que maus
servidores existem também nas empresas privadas. Mas, quando se fala em servidor público,
estamos falando daquele trabalhador, cujo patrão é o POVO, a quem ele tem o
dever de agradar.
Entretanto, há que se considerar que todo servidor
muda de chefe de 4 em 4 anos, de modo que não muda só o executivo, uma vez que
o executivo traz consigo aspones , cabos eleitorais e agentes políticos, que na
maioria das vezes não conhecem a dinâmica do trabalho e, por isso, acabam
batendo de frente com aquele servidor de carreira, perseguindo-o; isto quando
não o encosta em outro setor ... Já pensou se não existisse concurso público
para garantir estabilidade de emprego para aquele servidor? Por causa do abuso
de "chefes-políticos-passageiros-inecrupulosos é que se criou o concurso
público. Além do mais, o servidor de carreira acaba sendo obrigado a servir diretamente
àqueles paraquedistas cheios de vaidades pessoais ... Agora, se aquele servidor
está "morcegando", há uma arma que derruba sua estabilidade: O
Processo Administrativo.
Quando há uma greve no serviço público, com certeza, o
primeiro a ser atingido é o povo. O povo, uma vez prejudicado, não tem que
cobrar de seu "EMPREGADO" e, sim, daquele que foi eleito por ele, como
seu legítimo representante. Aliás, pressupõe que o seu projeto político também
foi eleito. Um detalhe: Nós, servidores, somos o povo também. Nós também
elegemos nossos administradores ...
Entremeio ao movimento grevista, surge aquela ideia de
que a greve é política, muitas vezes confundida com greve por oposição
partidária; o que não é o nosso caso, uma vez que não tem ninguém empunhando bandeira
de partido político. Qual greve não é política? Política por melhores salários,
por respeito e valorização do trabalhador ... Por outro lado, algumas atitudes
do atual prefeito sempre nos levam a crer que o mesmo vislumbre algumas
vantagens políticas em determinadas ações. Isto já é politicagem...
A questão do impasse negocial entre prefeitura x
sindicato tem que ser levada para toda a
comunidade, e de forma imparcial, porque é a comunidade que perde com qualquer
espécie de paralisação. Por isso, haverá sempre atitudes do “não-serviço” por
parte dos servidores, no sentido de fazer o povo reclamar com o seu eleito
sobre o mau atendimento nos diversos
setores da administração pública ... E isto é LEGAL! A greve é LEGAL! O
movimento grevista é a única arma contra a intransigência, a enganação ...
O fato de metade do orçamento ser gasto com
folha de pagamento é algo muito sério. Mas é bem visível que quem mais se
aproveita dessa verba são os famosos cargos comissionados (aspones e cabos
eleitorais), que são os cabides de emprego de uma prefeitura, onerando os
cofres públicos com rescisão de trabalho, de quatro em quatro anos. Quanto ao
resto, é o velho ditado: Se você não consegue tratar de 10 filhos, para quê
adotar mais 2? E, pelo que se sabe as admissões não param ...
E
assim, a novela continua … só
muda o autor… O Prefeito atual está tentando, como o seu antecessor, enganar o
povo, dizendo que já paga o PISO, que o orçamento da prefeitura não comporta e
até dizendo aos pais para enviarem seus filhos à escola, para desmobilizar o
movimento grevista; o que tem conseguido, levando-nos a mudar de estratégia:
Operação Tartaruga. Ao meu ver, incomodará muito mais e trará problemas
incontornáveis para todas as partes, comprometendo a excelência de nosso
trabalho.
Outra
questão polêmica é o nosso plano de carreira. Ele só pode ser concretizado, a
partir do cumprimento da lei 11.738 que dispõe sobre o pagamento do piso
nacional de salários do magistério, com retroação a abril de 2011. Só que os
nossos administradores se esquecem que a lei federal 11.738 tem que ser
aplicada com base no nosso plano de carreira atual (lei 920/89). Ela manda
aplicar o piso na base (P1). Por isso o prefeito anterior tentou derrubar a lei
920/89, empurrando tal proposta idiota à câmara; o que não conseguiu. E hoje? O
atual conseguirá? Conjunturas atuais à parte …
Se
antes de 2011, aquela diferença do P1 ao P6 era de 120%, hoje ela está em torno
de 30%; ou seja, o arrocho salarial já vem acontecendo há dois anos. Se
permitirmos a política salarial da administração atual, dentro de, no máximo,
dois anos, ninguém precisará ter formação acadêmica para ser professor. Esta é
a política do governo estadual, que está sendo copiada pelo municipal.
Naquela
época, em 2011, tínhamos a consciência de que a aplicação da citada lei federal
era impossível, uma vez que só a folha de pagamento de professor teria um
acréscimo de 60%; mas a citada lei orientava para que as prefeituras
solicitassem aumento de repasse do FUNDEB, caso não tivesse recurso. Mesmo
assim a administração não se dignou a buscar os recursos da lei. Desta forma,
decidimos entrar na justiça, uma vez que a proposta da prefeitura era de
arrocho salarial, fazendo com que perdêssemos muitas vantagens. Por isso, não
tivemos reajustes salariais, desde então,
Atualmente,
a prefeitura está se negando a reajustar nossos salários em 5% a partir de
Março + 5% a partir de Julho, enquanto a verba do FUNDEB foi reajustada em 13% – média dos 3 primeiros
meses. O que deveríamos pedir, atualmente - que não é aumento! - seria o
reajuste salarial a partir de janeiro (9.78%), conforme manda a lei. No entanto,
a mídia não pediu para o prefeito explicar tal dificuldade, fazendo-nos acreditar
que o prefeito fez uma caixinha durante
os 3 primeiros meses, deixando todos os setores públicos na mão, para pagar uma
dívida pública (a longo prazo) de 11 milhões. Por isso, nos oferece zero % de reajuste.
Esta
mesma mídia já está questionando: vale alimentação, vale-transporte, o fato de
a administração gastar metade do orçamento com folha de pagamento de
servidores, a relação patronal do servidor público com o povo, bem como a
estabilidade funcional do servidor concursado... E por aí, vai divulgando a
idéia de que o povo é quem está pagando
o pato e de que, nos bastidores da greve, há interesses políticos-partidários; quando é visível a
trama politiqueira do atual prefeito em deixar o servidor na mão agora, para
que no próximo ano possa se mostrar mais generoso, em busca de apoio político
para eleger mais um do clã dos Torres à Assembléia
Legislativa. Esta não vai pegar ...
Pois
é ... nesta trama, muitas vezes os personagens se revezam. O Prefeito era o
mocinho forasteiro, que apareceria na cidade para “RESOLVER” todos os problemas. Agora, está dando uma de
bandido light, que tira do trabalhador para dar aos empresários. Os servidores
públicos, para a mídia, são irresponsáveis, preguiçosos, folgados, abusados
... só porque, estão fazendo uso de um
direito legítimo: GREVE contra a indiferença de um paseudo-administrador, que
também não é nem um pouco “político”, no verdadeiro sentido de buscar o bem
comum, com transparência e diálogo.
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